As incertezas e o medo da perda trazidos pela pandemia do Covid-19 nos levaram a planejar a vida no curto prazo. Nos entristecemos com tantas despedidas causadas pelo vírus e por tantas outras circunstâncias.

Os serviços de psicologia e psiquiatria estão com uma demanda crescente pelo suporte ao luto. O trabalho do psicólogo é fazer as pessoas sentirem, entrarem em contato com a dor. Quando estamos com o coração partido, precisamos de alguém que nos acompanhe. A terapia dá um lugar para o acolhimento.

O luto é a noite escura da alma. Quebra as nossas janelas, as nossas portas e abala as estruturas da casa interna. É um tornado que muda tudo de lugar em segundos.

Quando falamos de luto, falamos de amor. Dor e luto fazem parte de qualquer experiência de amor. Essa dor que lateja pede cuidados. Dói porque você amou. Com o tempo, a dor será transformada em saudade. A vida se encarregará de trazer novos significados por meio dessa experiência. Todos nós temos uma série de dores e sofrimentos que nos fizeram chegar até aqui.

O enlutado precisa ser fiel aos próprios sentimentos, mas é necessário aceitar a perda para poder se reerguer e para que os profissionais possam ajudar. A perda é para sempre, mas a vida é possível no luto. Podemos seguir adiante, com respeito ao tempo de cada pessoa. Voltar a sorrir, a dançar e a sonhar. Recomeçar.

Cuidar é a essência do que fazemos na psicologia e pressupõe uma relação de amor por si e pelo outro. Cuidar é o exercício diário do amor.

Rubem Alves em “O amor que acende a lua” fala sobre o desejo de sermos ouvidos de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Amamos não quem fala bonito, mas quem “escuta bonito”.

Sara Andreozzi Petrilli do Nascimento
Psicóloga da Clínica Elgra, Especialista em Psicossomática Psicanalítica e Pós-graduada em Psicologia Hospitalar.
CRP 82574/06

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