O massacre na Escola Raul Brasil fomentou intensos debates sobre a difícil tarefa de identificar sinais que permitam prevenir novas tragédias, além de provocar na comunidade o temor de que tais ações influenciem outros jovens.
Os sinais de uma psicopatologia ou de distúrbios mentais são geralmente sutis e difíceis de serem notados. Apenas quando ocorre uma tragédia é que tudo se torna claro. Nas conversas que se seguem, normalmente estendidas também ao bullying e ao suicídio, fica evidente o sentimento de culpa e impotência de familiares, amigos, professores e profissionais da saúde, por não terem conseguido evitar o pior. A morte foi programada, encenada e midiática. É o oposto de uma morte natural ou por acidente. É inesperada. Choca.
No último ato de suas vidas, foram protagonistas daquilo que, para eles, em uma realidade paralela, era um jogo de poder e controle. Pela primeira vez, foram verdadeiramente olhados, mas infelizmente como anti-heróis.
Mas como a família poderia ajudar na prevenção?
Com pais e mães trabalhando fora para conseguir criar seus filhos, são comuns as queixas de falta de tempo para o convívio. Porém, o que importa não é a quantidade, mas sim a qualidade dos momentos em família. Mesmo com apenas uma hora por noite, que seja de corpo e alma. Olhe nos olhos de seu filho e pergunte: como foi o seu dia? E ouça atentamente a resposta. Permita também que seu filho retribua a pergunta e o responda com honestidade.
Carecemos de mais qualidade nas nossas relações, diálogo e empatia. Não elaborar sentimentos de frustração, rejeição e baixa autoestima causa desorganização emocional. Falamos menos. Adoecemos mais.
Reflexões acerca do ocorrido refinam nosso olhar e escuta para atentarmos mais aos sinais velados e aos gritos de socorro. Prevenir é mudar comportamentos em prol da vida e da saúde psíquica.
Sara Andreozzi Petrilli do Nascimento
Psicóloga da Clínica Elgra, Especialista em Psicossomática Psicanalítica e pós-graduada em psicologia hospitalar.
CRP 82574/06